A Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF) é uma condição patológica placentária que ocorre em gestações gemelares monocoriônicas/diamnióticas, nas quais a placenta é compartilhada entre os fetos. Nessa condição, há uma transferência sanguínea desproporcional entre os bebês por meio de conexões vasculares na placenta.
O feto que recebe o excesso de sangue é chamado “feto receptor”, e o que fornece o sangue é chamado “feto doador”.
Características clínicas
A STFF é definida pelo fluxo sanguíneo desequilibrado através dos vasos que conectam os sistemas circulatórios dos gêmeos.
- O feto doador apresenta oligodrâmnio (baixo volume de líquido amniótico) e restrição de crescimento intrauterino.
- O feto receptor pode apresentar polidrâmnio (excesso de líquido amniótico), insuficiência cardíaca e hidropisia.
Frequência
Aproximadamente 1 em cada 7 gestações monocoriônicas/diamnióticas é afetada pela STFF.
O diagnóstico precoce é feito durante a ultrassonografia morfológica entre 11 e 14 semanas, sendo essencial o monitoramento quinzenal após a identificação de uma gestação desse tipo.
Classificação STFF (Estadiamento de Quintero)
- Estágio I: Diferença significativa no líquido amniótico — doador com < 2,0 cm e receptor com > 8,0 cm; peso fetal com diferença > 20%.
- Estágio II: Alterações do estágio I associadas à não visualização da bexiga do feto doador (bexiga vazia); Doppler normal.
- Estágio III: Alterações anteriores + Doppler anormal (fluxo ausente ou reverso na artéria ou veia umbilical, ducto venoso anormal).
- Estágio IV: Acúmulo anormal de líquido em cavidade corporal (hidropisia fetal), em um ou ambos os fetos.
Estágios II, III e IV são considerados STFF grave. Sem intervenção cirúrgica a laser, a taxa de óbito de um dos fetos pode ultrapassar 90%.
Opções de tratamento
As opções variam conforme a gravidade e progressão da doença.
1. Conduta Expectante
- Monitoramento sistemático da gestação, indicado para casos leves.
- Ultrassonografia obstétrica com Doppler e ecocardiografia fetal semanal.
- Deve ser feito em centro de referência.
- Antecipação do parto pode ser indicada em casos específicos.
2. Amniorredução
- Remoção controlada do excesso de líquido amniótico do feto receptor.
- Otimiza o fluxo sanguíneo placentário.
- Indicada para casos leves ou como medida temporária.
3. Fotocoagulação a Laser Fetoscópica Seletiva (Cirurgia à Laser)
- Tratamento de escolha para casos graves.
- Realizada em hospital, com anestesia adequada e incisão mínima (< 1 cm).
- Permite a visualização e fotocoagulação das conexões vasculares entre os fetos, interrompendo a comunicação anormal.
- Pode incluir a técnica de Solomon para reduzir complicações e recorrência.
- Após o procedimento, é feita amniorredução e internação por 24h para monitoramento.
Resultados esperados
- Redução da mortalidade fetal.
- Diminuição de complicações neurológicas.
- Melhora no prognóstico dos dois bebês.
Idade gestacional para cirurgia a laser
A intervenção é geralmente realizada entre 18 e 26 semanas de gestação.
- Casos graves: pode ser feita entre 16 e 18 semanas.
- Diagnóstico tardio: até 28 semanas, com avaliação individual dos riscos e benefícios.